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A despropósito - Abril 2008

...por falar nisso, lembrei-me não sei porquê, que estou a ficar velho. Pista: Muitas das pessoas que não me conhecem tratam-me por “você” ou “o senhor”. É enganador, porque pode ser um conjunto de “aumento da educação e respeito das pessoas” e de lidar com um público mais novo. Pista: Estou a ficar com uma barriguinha deprimente. É enganador porque isso pode ser consequência do facto de ter entrado num ritmo profissional, sempre sentado ao computador, e pouco tempo ou cabeça para exercício físico. Pista: 80% das minhas conversas são do tipo “Lembras-te?” ou “então e quando...”. Pode indicar saudosismo porque os tempos passaram de facto, mas engana e pode querer convencer-me que estou de facto velho. Pista: Demasiados amigos de infância e de liceu já casaram, ou já têm filhos, ou ambas as coisas, não obrigatoriamente pela ordem indicada. Poderia querer dizer que os jovens estão a casar mais cedo. Pista: Quando falo das coisas que assisti em criança, dos desenhos animados preferidos, da forma como brincava, ninguém conhece os nomes que digo, as músicas de genérico que canto, e dizem que os jogos que eu jogava (7 pedrinhas, cirumba, guelas) não são conhecidos para a X-Box. Pode ser que seja do mundo que se alterou, quase instantaneamente. Pista: Tenho quase 29 anos. Isto é um erro comum, porque a idade não infere em nada no estágio da vida “velhice” ou “juventude”. As pistas são demasiadas, mas enganadoras... no entanto a conclusão não muda. Estou a sentir-me mais velho... Ainda não é um sentimento crítico, mas tenho pensado nisso. Nenhum dos argumentos já indicados pode fazer-me velho, mas a verdade é que me sinto velho por passar por todas essas situações, mas principalmente porque sinto que cá dentro, as coisas mudaram. Apesar de ter alguns cordões que me amarram eternamente à infantilidade – Ser o mais novo de 7 irmãos, a imaturidade nas piadas e decisões, fuga às responsabilidades – há coisas que indiscutivelmente demonstram que eu envelheci: já não tenho paciência para mudar o mundo inteiro; já não me sinto distante da ideia típica de organizar a vida, em família; já dou mais valor ao tempo de Reflexão, e menos ao tempo de Diversão. Tenho a grande sorte de ter quatro grandes amigos com quem tenho grandes conversas filosofico-... vá... parvas, em quatro áreas distintas: a fé, a vida, o amor e o mundo. E isto faz com que eu não saiba mais nada sobre outros assuntos, porque não os discuto... nem política, nem economia, nem sociologia... coisas essenciais... Mas vou sabendo que por mais que se discuta se os bombeiros são eficazes ou se as escolas devem fechar, se os professores estão a ser injustiçados ou se o governo é corrupto, a maneira de ver as coisas muda dentro de uma pessoa. Com a maturidade, com a aprendizagem, com a formação pessoal... Muda a prioridade que damos às coisas, e definitivamente, sinto-me velho porque já não quero saber de como posso mudar o mundo, mas somente de dizer, na simplicidade, a cada um dos meus amigos, que gosto muito deles, e que só por eles sou feliz.

Sobre o autor

Viajar no tempo, até à altura em que escrevia coisas soltas, sem nexo, vindas lá do fundo do esgoto da minha adolescência e juventude... por vezes pode cheirar mal.

Sobre o leitor

Um perfeito desconhecido, amigo de longa data... uma pessoa 5 estrelas, amigo do amigo, devia abrir-se mais aos outros.