O CAMINO - Capítulo I: Oviedo - Grado

Acordei em Oviedo, num beliche do albergue municipal, num cenário meio estranho. Foi pegar nas tralhas e ir em direcção à Catedral de El Salvador de Oviedo, onde começaríamos a seguir as «flechas».
Cruzámos caminho com alguns grupos de malta nova mas não eram peregrinos, antes jovens que voltavam das suas noitadas de sábado, até às tantas.

Em frente à Catedral, existe uma placa no chão que marca o início! Para nós, é o local para a Oração do Peregrino:
Apóstolo Santiago, eleito entre os primeiros,
Tu foste o primeiro a beber do cálice do Senhor,
e és o grande protector dos peregrinos;
faz-nos fortes na fé e alegres na esperança,
no nosso caminhar de peregrinos seguindo o caminho da vida cristã,
e alenta-nos para que, finalmente,
alcancemos a glória de Deus Pai. Amen
E arrancámos! No caso, seguindo não as «flechas», mas as «compostelas», conchas metálicas cravadas no chão, nos passeios da cidade, nem sempre muito visíveis. Seria assim até aos limites de Oviedo, onde nos cruzámos com uma estátua de Santiago.



Pouco ou nada tinha estudado em relação ao caminho, às etapas, aos pontos de passagem. Aprendo agora que o destino desta primeira etapa era Grado.
A cidade grande ficou para trás e enveredámos por caminhos mais rurais, para depois cruzar estradas interiores. O tempo não estava muito bom - céu cinzento e carregado - e apesar de ter chovido recentemente, não houve chuva no nosso menu do dia.
Ao passarmos nas imediações de um pequeno lugar - Llampaxuga - havia uma pequena capela/ermida onde parámos para carimbar as nossas credenciais (C3) uma vez que neste local de culto, mesmo estando fechado, o carimbo estava à disposição num pequeno armário cravado na parede do guarda-vento. Pensei que era uma solução interessante para os peregrinos que pretendem carimbar em locais religiosos mas que na maioria das vezes passa por estes quando estão fechados. [*Percebi com o resto do caminho que mais nenhum lugar pensava assim.]
Neste local aproveitámos para tomar o pequeno almoço que carregámos nas mochilas.
A conversa ia boa, e distraía das dores que começaram a aparecer nos pés e no joelho direito, tal como distraía de algumas paisagens e lugares por onde fomos passando, que não fotografei com a memória para conseguir posteriormente reproduzir cada curva, cada passo. Ao final da primeira etapa, já me parecia que estava a perder uma boa parte do #camino.
[*Engraçado como ao «revisitar» com a memória os locais por onde passámos, quem encontrámos no caminho, as encruzilhadas, as estradas e os trilhos, até parece estranho pensar o quanto aconteceu logo no primeiro dia, quando à distância do tempo, depois da caminhada terminada - quando faço esta edição - diría que foram coisas que iam acontecendo pelo caminho fora nas suas mais variadas etapas.]
Chegados a Grado, procurámos o albergue municipal, e havendo lugar (lotação de 16 'plazas'), fizémos o check-in necessário (C4), e descomprimimos as tensões maiores da mochila às costas e das botas nos pés.



Acabou assim a primeira etapa, mas o dia ainda estava a meio. Era necessário procurar um local para almoçar (que não foi fácil), conhecer a povoação que não era grande, dar descanso ao joelho que ficou dorido, preparar o jantar e o mais que fosse preciso para a etapa seguinte.
Precisei pôr gelo no joelho, e uma «droga» em spray, que passou a ser o meu melhor amigo nos dias seguintes. Ficando em repouso na sala comum, acabámos por embrenhar em conversa com os responsáveis pelo albergue - um espanhol mais velho, e uma americana-coreana. Na verdade, o espanhol era praticamente surdo, portanto a conversa boa2 foi com a «Jane» e com os peregrinos que iam passando.
Conhecemos assim um peregrino americano chamado Chance, uma alemã chamada Anna, e um português chamado António, além de um grupo de 5 dinamarqueses, 1 romeno e 1 maltês.
Fui deitar-me, e pensei na minha credencial - sempre no meu bolso - onde já tinha quatro carimbos, e muito espaço em branco onde esperava colecionar cerca de vinte e oito carimbos até ao final da aventura.
O saldo para este dia fica em 27.78 Km, agora é dormir!