Nunca fui muito cliente de música - ouvir música, saborear música - no sentido de ter “sede” de ouvir álbuns, artistas, estilos…
Aprendi cedo a pôr um LP a tocar no gira-discos, e depois a copiar cassetes, gravar programas da rádio… mas era um miúdo sem grandes referências nesse campo, não havia músicos nem se ouvia música lá por casa (que eu me lembre).
Quando gostava de uma canção, ouvia o mais que podia… não sabia nada dos nomes, dos géneros, das modas, das inovações que traziam ou de eventuais plágios, do que era bom gosto e mau gosto… guardei meia dúzia de músicas até à adolescência…
Depois comecei a ouvir as opiniões dos meus irmãos, dos meus amigos, o que me levou a criar as etiquetas, categorias que discriminavam alguns “alvos” por serem bimbos, e davam ênfase a outros por serem “cool”. Mas continuava a conhecer muito pouco, mão cheia de artistas ou bandas, duas mãos cheias de canções... e comecei a atirar opiniões ao ar sem conhecimento de causa… É o chamado "formar o gosto".
A passagem das músicas infantis para o Pop e o Rock veio pelo single de Paul McCartney (& Rupert). Depois vieram as fases: a fase de gostar muito de Guns 'n roses só porque os meus irmãos ouviram até à exaustão o cd “Use your illusion”… a fase de gostar de The Doors porque o amigo cool dizia que gostava, e a fase Michael Jackson pela fama dos seus concertos espectaculares… todas muito superficiais, muito falsas, sem perder muito tempo nem investir dinheiro para conhecer a fundo essas músicas…
Por essa altura comecei a aprender a tocar guitarra… porque via amigos a tocar (Gonçalo!!), porque alguém me ia emprestando (Pedro!!), e vai daí e comecei a aprender alguns acordes, e com eles algumas músicas… mas tenho a perfeita noção que a maior vontade ao aprender aquele instrumento era de criar, compor as minhas canções, musicar os meus rascunhos de textos e poemas que eram um reflexo directo do que mais existia em mim naquela altura: sentimentos.
Não sabendo quase nada de música - leia-se teoria musical - e conhecendo muito pouca música - leia-se música pop, clássica, comercial ou alternativa, - achava que a melhor parte era deitar para o mundo os meus 5 tostões de ideias e melodias, as minhas músicas-à-paulo-almeida muito básicas, mal cantadas.
Tentei convencer amigos a formar uma banda, a tocar aqueles temas, a fazer evoluir em conjunto... um autêntica Pseudo-Banda, uma ideia condenada à nascença porque quis juntar os amigos, em vez de procurar músicos...
Muitos anos depois, continuo com a mesma noção que prefiro compôr. Já aprendi mais músicas, mais artistas, tenho bem definidas as minhas preferências, e continuo a tocar muito-poucochinho de guitarra, mais um muito-poucochinho de bateria, e outro muito-poucochinho de teclas...
Um dia destes, quando se instalar mais a fundo o não-quero-saber'ismo, típico da idade, publico algum material do baú dos tesourinhos-da-vergonha-alheia... é esperar e rezar que não deixe mazelas.