O CAMINO - Capítulo V: Samblismo - Berducedo
Paulo Almeida
05 / 05 / 2022
23:00

O tempo prometia estar agradável, pois não havia muitas nuvens à vista e a temperatura estava amena. Nesta parte inicial, os três portugueses seguiam com uma das alemãs - Steffi - e o casal espanhol um pouco mais atrás. O terceiro espanhol - Jaime - partiria mais tarde. Foi a caminhar que fizémos a oração, e lá fomos conquistando umas subidas ainda tímidas. Acabámos por encontrar uma das outras alemãs - a Mareike - que caminhava com um peregrino ainda desconhecido até então - o David, nascido na Alemanha, com pais portugueses. Conhecemos-nos numa altura um pouco conturbada - numa bifurcação sem indicações, que nos levou a perceber que estávamos no caminho errado, desviados 1,5 Km da rota.

Depois, retomámos caminho e, estranhamente, continuámos a subir. Agora a subida era uma encosta onde o trilho não parecia tão bem marcado, mas antes um entrançado de pequenos trilhos, talvez sulcos abertos pelas águas que correm montanha abaixo, em estado líquido ou sólido, pelas estações do ano. As marcações - agora mais frequentes - eram postes de madeira com as flechas pintadas, representando a tentativa de manter as indicações visíveis mesmo quando houvesse neve no chão.
Mais perto do topo daquele monte específico, voltámos a encontrar um trilho aberto por um qualquer tractor, que torna a montanha numa autêntica estrada, mais fácil de trilhar. Curvas e contracurvas nas faces das montanhas, a vista incrível de grandes maciços de rocha, separados por vales fundos, vegetação rasteira e, de vez em quando, vacas ou cavalos a aproveitar a mesma serra. Pelo meio encontrámos o segundo «hospitale»... e depois o terceiro. Num pequeno planalto, avistámos uma lagoa onde o gado mata a sede. De seguida, mais um pouco de subida... e o pequeno morro ao lado do caminho chamou-me para subir mais um bocadinho do que era pedido e ver a vista panorâmica.



Dali, vê-se que o caminho ainda vai subir mais um pouco. Já não pode subir muito mais, pois temos a informação que a altitude máxima que alcançaríamos seria perto dos 1200m, e estávamos praticamente lá. Depois de alcançado esse ponto, seguimos mais ou menos plano, ou pouco a descer, até encontrar a estrada que nos ligaria aos peregrinos que escolheram a outra rota. Dali para baixo, podíamos ir pela estrada, às curvas pela montanha abaixo, ou por um trilho de pedras soltas, mais inclinado, mais a direito. Escolhemos o trilho, a direito, cruzando a estrada serpenteante, e avançamos, passando por pequenos povoados - era muito ténue a presença humana nesta região.
Mais à frente, em frente a uma Igreja, havia uma fonte para encher o cantil e refrescar. Depois disso, subir, até chegar à estrada, onde vimos pela primeira vez um casal de italianos - a voltar atrás, vindos de um trilho que percorreram por engano. Fomos caminhando por trilhos que iam dançando à volta da estrada, por vezes ao sol, outras vezes no meio das árvores até chegarmos a Berducedo.


Sem qualquer novidade associada, cheguei ao destino já no limite das minhas forças. Após ligarmos para a responsável do albergue - que não se encontrava nas instalações - lá fizémos o check-in e fomos procurar o almoço para restabelecer energias (C10). Nesta povoação (e albergue) reencontrámos os dinamarqueses, o americano, o brasileiro e a russa, além de duas das alemãs com quem fizémos parte desta etapa.
Não havia muito que fazer na pequena vila, portanto depois de almoçar, e depois de visitar outra esplanada para beber uns copos e obter mais um carimbo (C11), e depois de nos cruzarmos com uma canadiana e com um inglês de 79 anos, voltámos ao albergue para lavar roupa suja - literalmente falando - e conversar um pouco, descontraidamente.
Ao final da tarde fomos procurar jantar, que acabou por ser uma pizza para 3 no mesmo restaurante onde almoçámos, desta vez na esplanada plantada quase na estrada, a bebericar uma sidra oferecida pelo amigo Jaime, e a viver o pôr-do-sol.



Depois disto, voltámos ao albergue, alinhámos o plano do dia seguinte e fomos para a camarata.
O saldo para este dia fica em 26.94 Km, agora é dormir!
Na continuação deste artigo, pode querer ler: