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Saímos cedinho novamente, e logo nos primeiros metros aproveitámos uma fábrica de pão, por cuja porta entreaberta pudémos ver e encomendar uns pães para a nossa jornada.
Só depois disto, no centro da localidade, em frente à Igreja, fizémos a nossa oração.
A madrugada deixava ver muitos bancos de neblina ao nível da estrada, e os trilhos de erva tinham orvalho suficiente para deixar as botas encharcada, mas não fazia diferença. Mais cedo ou mais tarde, iria atravessar-se à nossa frente uma daquelas poças de lama que ocupa TODA a largura do trilho.
Por muito que fizéssemos as piadas e os queixumes do "barro", rapidamente ficámos com saudades, ao termos de fazer uma grande troço na beira da estrada, que além de ser mais perigoso, estraga também o ambiente pelo barulho dos carros e dificulta a converseta quando estamos em fila.
No sítio onde deixávamos a estrada e apontávamos ao monte, numa paragem de autocarro, aproveitámos para parar e comer. Estavam duas pessoas a sair, um dos quais era o David, que ainda se demorou um bocadinho connosco, enquanto o outro arrancou.
Voltámos ao #camino, subindo o monte, cruzando a estrada e passando por um portão - sim, o #camino, por vezes, tem portões... estão disponíveis para abrir, mas devem manter-se fechados porque de um dos lados desse portão pretende-se manter algum gado a pastar, livremente. Depois de passarmos o portão, lá passámos por vacas, quase no meio do trilho - já lá estiveram, nota-se pelos montes de bosta.
O tempo estava óptimo, primaveril, quase verão. Nos últimos dias tem estado assim, e as temperaturas têm subido até valores pouco normais para Maio. Um chapéu na cabeça, etapas iniciadas mais pela fresquinha, a procura das sombras, a ingestão de água, todas estas «ferramentas» permitiram gerir esse calor.
O grande «marco» desta etapa seria a entrada na Galiza, deixando definitivamente as Astúrias para trás. Faltava pouco, aparentemente, para essa fronteira ser ultrapassada, mas não havia nenhuma indicação do ponto específico onde isso aconteceu. Simplesmente vimos um marco de pedra - igual a todos os outros - cá em cima, no topo do monte... e depois vimos outro marco de pedra no sopé daquele mesmo monte, junto à estrada, este com um aspecto diferente e com referência à Xunta de Galicia.
Não houve brinde, não houve foto, nem comemorações efusivas... simplesmente passámos, quase sem saber bem como, e parecia que tudo ia ser diferente. Logo ali, junto à estrada, o primeiro café onde parámos, pois faltava a cafeína, e a mim também começava a faltar água. Sentados numa esplanada, vimos passar o casal de franceses, que seguiu, enquanto nós ficámos. Um carimbo (C18), meio dedo de conversa - que o dono do café não parecia muito virado para a conversa... pouco mais disse que um «Buen camino», e mais mão cheia de palavras que seria melhor não ter dito: "10 Km, sempre horizontais". Assim que saímos daquele café, começámos a subir.

O caminho nunca pode ser muito a direito, nem muito plano. Corre o risco de não ser interessante, não ter surpresas ao virar das curvas, de ser monótono e fácil, ao não nos desafiar a subir e descer, a fazer rodar a nossa sombra. Apelidei carinhosamente essas subidas e descidas como «Planície Galega», mas esse carinho foi-se embora quando às portas de A Fonsagrada, ao percebemos que a povoação estava ali bem perto, talvez 2 Km, mas numa cota de altitude bastante superior, o que significava uma subida. Mentalizados para essa recta final ascendente, fomos andando e aproximando do destino, num trecho da etapa que teimava em manter-se plano, adiando cada vez a subida, e agravando a sua inclinação para uma encosta íngreme. Assim foi o desfecho desta etapa, uma subida intensa, uma «parede», como alguém disse. Trepámos por ali acima, eu quase sem conseguir respirar, para depois entrar finalmente na povoação...
Mas o albergue municipal não era «logo ali». Andámos mais um pouco, para o centro da povoação, que era maior que Grandas de Salime.
Encontrámos o albergue, fizémos o check-in (C19), «renascemos» com um duche, e eu fui lavar roupa4. Cruzei-me com um peregrino, que não tendo conhecido nem falado com ele, apelidei de Saruman, por ser parecido com o ator Christopher Lee.
Saímos à procura de onde almoçar. O facto de ser sábado complicava um pouco as contas de quem procurava uns menus económicos. Acabámos por almoçar num restaurante mais «pomposo», como prémio da conquista daquele dia, fechando a refeição com um carimbo (C20).
A tarde deu para compras no supermercado, recolher a roupa seca, carregar um pouco o telemóvel, guardar fotografias online para libertar espaço, e depois disso, saímos para ver um pouco do jogo Benfica-Porto num café que nos tinha dado essa esperança. Não houve transmissão do jogo, mas houve um brinde antes de ser hora da missa.

Com uma mensagem apontada para os peregrinos, poucos, que se ligaram àquela comunidade, a missa terminou com o convite para fazermos a bênção de peregrinos, com direito a carimbo da paróquia (C21).
Dali, fomos ver tratar de jantar, uma petiscada no mesmo restaurante onde almoçámos.
O dia acabou e o corpo pedia um descanso profundo.
O saldo para este dia fica em 26.33 Km, agora é dormir!
Na continuação deste artigo, pode querer ler:

O CAMINO - Capítulo VIII: A Fonsagrada - O Cádavo

Sobre o autor

Alter-ego: ALCOR :: Procuro estar atento ao mundo, informar-me, ponderar uma opinião... mas entretanto alguém me gamou a password e consegue publicar cenas que eu, apesar de pensar, nunca diria da boca para fora, porque a minha mãe me educou para filtrar estas coisas e eu não a quero desapontar. As reflexões, opiniões e partilhas aqui publicadas não estão autorizadas a sair daqui. «What happens in vegas...»

Sobre o leitor

Um perfeito desconhecido, amigo de longa data... uma pessoa 5 estrelas, amigo do amigo, devia abrir-se mais aos outros.