O CAMINO - Capítulo X: Lugo - San Romao da Retorta
Paulo Almeida
10 / 05 / 2022
23:00

Quando estávamos prontos a sair, tínhamos duas “questões” pendentes para resolver: primeiro, tive de inteirar o “sôr Vitor” da «história da joelheira»5, que espoletou uma cadeia de contactos via redes sociais para localizar o dono; em segundo, o “ferreira” prometeu esperar por uma pessoa para garantir que a porta do albergue estava aberta, pessoa essa que não apareceu dentro da margem de tolerância.

Chegados à catedral de Lugo, fizemos a oração e deixamos o centro muralhado pela Porta de Santiago. Lugo é uma cidade grande em comparação com todas as povoações por onde passámos até agora, mas não tão grande como Oviedo, por isso em apenas alguns minutos atravessámos os bairros da cidade e chegámos ao rio que a delimita naturalmente.
Passamos por uma ponte com indicação de estarmos na Via Romana XIX, e admirámos as águas calmas num leito largo do rio Minho (Miño), tão antes de se tornar Português.
A subida do outro lado, numa colina pouco acentuada, foi feita à luz do nascer do sol, que revelava, ao olharmos para trás, o horizonte definido por Lugo, já a alguma distância, e com cores acentuadas de vários tons, entre azuis e amarelos.
O resto do caminho deste dia foi literalmente seguir ao longo de uma estrada, que tinha uma berma minimamente arranjada para convidar os peregrinos a evitarem o alcatrão. Foram quilómetros desta estrada, a ver o horizonte ao longe, sem mudar muito de aspecto. Não sendo uma etapa feia, ou que passasse em zonas poluídas ou industriais, também não era propriamente um assombro de beleza desmedida. Valeu a companhia e a conversa, para distrair do cansaço e dos ameaços de doença.
À passagem por um casario, um «negócio da china»: um espaço com vending-machines variadas, para chocolates, bolos, bebidas e café, para os peregrinos se servirem. Depois de uma moeda na máquina do café que resultou numa bica servida sem copo, e portanto, para o lixo, restava somente usufruir do carimbo (C26) e seguir.



Chegámos cedo ao albergue, um albergue privado que tínhamos reservado no caminho. Demos entrada (C27) e fomos à dança do tomar-banho-lavar-roupa-e-pensar-no-almoço. O albergue não ficava bem na povoação - ou a povoação era mesmo só aquilo, talvez - pelo que o almoço foi nas instalações do albergue, e não houve passeios para ir ver as atrações mais turísticas. Depois do almoço deu para descansar um pouco na camarata, sendo acordado pelo som distante de uma guitarra que duvidei vir do jardim exterior - talvez fosse o eco de um qualquer sonho, já esquecido e desaparecido no meu despertar.
Descemos para beber uns copos ao final da tarde, e vi - de facto - uma guitarra nas mãos de um peregrino com quem já nos tínhamos cruzado - era um casal que nitidamente não falavam outra língua que não a sua, aparentemente alemão. Quando tive a minha oportunidade, pedi a guitarra emprestada para tocarmos umas coisas na esplanada. Acabámos por tocar em conjunto com o Christian - afinal eram polacos - com quem pouco ou nada conversámos devido à barreira linguística. Somente partilhámos música, alguns «covers» que pudessem ser reconhecidos, ou músicas nativas de cada país a serem apresentadas mutuamente.



Resolvido esse stress, lá fomos descansar. Tempo para nos despedirmos do António, que no dia seguinte sairia mais tarde, e não daria pela nossa saída madrugadora.
O saldo para este dia fica em 20.68 Km, agora é dormir!
Na continuação deste artigo, pode querer ler: