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Esta noite foi complicada... entre estar de nariz entupido, sentir com um mal-estar generalizado, haver janelas que não foram tapadas com os cortinados, e malta a ressonar, o descanso foi intermitente. Acordei abananado, arrumei a tralha e fiz-me à saída.
Quando estávamos prontos a sair, tínhamos duas “questões” pendentes para resolver: primeiro, tive de inteirar o “sôr Vitor” da «história da joelheira»5, que espoletou uma cadeia de contactos via redes sociais para localizar o dono; em segundo, o “ferreira” prometeu esperar por uma pessoa para garantir que a porta do albergue estava aberta, pessoa essa que não apareceu dentro da margem de tolerância.
Ultrapassados estes pontos, arrancámos! Atravessámos as praças do centro histórico, assistimos às operações de limpeza e descobrimos mais duas ou três atrações para fotografar no lusco-fusco da madrugada.
Chegados à catedral de Lugo, fizemos a oração e deixamos o centro muralhado pela Porta de Santiago. Lugo é uma cidade grande em comparação com todas as povoações por onde passámos até agora, mas não tão grande como Oviedo, por isso em apenas alguns minutos atravessámos os bairros da cidade e chegámos ao rio que a delimita naturalmente.
Passamos por uma ponte com indicação de estarmos na Via Romana XIX, e admirámos as águas calmas num leito largo do rio Minho (Miño), tão antes de se tornar Português.
A subida do outro lado, numa colina pouco acentuada, foi feita à luz do nascer do sol, que revelava, ao olharmos para trás, o horizonte definido por Lugo, já a alguma distância, e com cores acentuadas de vários tons, entre azuis e amarelos.
O resto do caminho deste dia foi literalmente seguir ao longo de uma estrada, que tinha uma berma minimamente arranjada para convidar os peregrinos a evitarem o alcatrão. Foram quilómetros desta estrada, a ver o horizonte ao longe, sem mudar muito de aspecto. Não sendo uma etapa feia, ou que passasse em zonas poluídas ou industriais, também não era propriamente um assombro de beleza desmedida. Valeu a companhia e a conversa, para distrair do cansaço e dos ameaços de doença.
À passagem por um casario, um «negócio da china»: um espaço com vending-machines variadas, para chocolates, bolos, bebidas e café, para os peregrinos se servirem. Depois de uma moeda na máquina do café que resultou numa bica servida sem copo, e portanto, para o lixo, restava somente usufruir do carimbo (C26) e seguir.
Já tínhamos percorrido a maior parte dos quilómetros até ao destino e ainda era cedo para chegar ao albergue, pelo que desviámos 100 metros da estrada para ir beber uns copos. Quando voltámos ao caminho, bastaram meia dúzia de passos para passarmos num marco romano imponente, e logo à frente a algazarra de uma outra esplanada cheia de peregrinos. Aqui encontrámos o David, o Gilberto e mais alguns dos espanhóis.
Chegámos cedo ao albergue, um albergue privado que tínhamos reservado no caminho. Demos entrada (C27) e fomos à dança do tomar-banho-lavar-roupa-e-pensar-no-almoço. O albergue não ficava bem na povoação - ou a povoação era mesmo só aquilo, talvez - pelo que o almoço foi nas instalações do albergue, e não houve passeios para ir ver as atrações mais turísticas. Depois do almoço deu para descansar um pouco na camarata, sendo acordado pelo som distante de uma guitarra que duvidei vir do jardim exterior - talvez fosse o eco de um qualquer sonho, já esquecido e desaparecido no meu despertar.
Descemos para beber uns copos ao final da tarde, e vi - de facto - uma guitarra nas mãos de um peregrino com quem já nos tínhamos cruzado - era um casal que nitidamente não falavam outra língua que não a sua, aparentemente alemão. Quando tive a minha oportunidade, pedi a guitarra emprestada para tocarmos umas coisas na esplanada. Acabámos por tocar em conjunto com o Christian - afinal eram polacos - com quem pouco ou nada conversámos devido à barreira linguística. Somente partilhámos música, alguns «covers» que pudessem ser reconhecidos, ou músicas nativas de cada país a serem apresentadas mutuamente.
O jantar foi no mesmo sítio, regado com «pânico», gerado pela notícia que em Melide os albergues estavam completamente cheios. Acabámos por ligar a alguns dos privados que tínhamos listado com antecedência e conseguimos (ao terceiro) garantir uma vaga.
Resolvido esse stress, lá fomos descansar. Tempo para nos despedirmos do António, que no dia seguinte sairia mais tarde, e não daria pela nossa saída madrugadora.
O saldo para este dia fica em 20.68 Km, agora é dormir!
Na continuação deste artigo, pode querer ler:

O CAMINO - Capítulo XI: San Romao da Retorta - Melide

Sobre o autor

Alter-ego: ALCOR :: Procuro estar atento ao mundo, informar-me, ponderar uma opinião... mas entretanto alguém me gamou a password e consegue publicar cenas que eu, apesar de pensar, nunca diria da boca para fora, porque a minha mãe me educou para filtrar estas coisas e eu não a quero desapontar. As reflexões, opiniões e partilhas aqui publicadas não estão autorizadas a sair daqui. «What happens in vegas...»

Sobre o leitor

Um perfeito desconhecido, amigo de longa data... uma pessoa 5 estrelas, amigo do amigo, devia abrir-se mais aos outros.