O CAMINO - Capítulo XII: Melide - Pedrouzo
Paulo Almeida
12 / 05 / 2022
23:00

Saímos de noite, procurámos uma flecha oficial e fizemos a oração. Depois seguimos pelo caminho indicado pelo dono do albergue, com a sugestão de aproveitar a vista no alto da igreja. Tudo espectacular não tivéssemos feito isto à noite, altura em que nem via onde punha os pés.
A jornada para hoje foi a mais longa de toda a peregrinação: prevíamos 33 km, não sabendo se seria um terreno fácil ou difícil. A primeira fase feita por trilho rural, permitiu passar uma ponte de pedras para ultrapassar um pequeno riacho no meio do bosque. Seria local perfeito para fotos, não fosse o mesmo problema: ainda estava muito escuro.

O troço seguinte era estrada, que se transformou e ambiente urbano ao levar-nos por dentro de uma povoação chamada Arzua. À saída desta vila, duas irmãs à porta de um edifício, «ofereciam» o carimbo aos peregrinos. Entreguei a credencial meio distraído e recebi de volta dois carimbos de uma assentada (C30 & C31).
Depois seguimos pelo bosque. A certa altura percebemos que estávamos a passar por um ponto onde muitos escolhiam iniciar a peregrinação. Começamos a sentir os caminhos mais cheios de peregrinos, muitos deles em grupos grandes que faziam as últimas etapas em modo organizado por alguma agência que lhes garantia autocarro, transporte de malas e, mais perto do final da manhã , o restaurante onde almoçariam.
O nosso caminho não se interrompeu nem se atrapalhou. Chegamos a conversar com algumas pessoas de um grupo de americanos. Depois, voltando à estrada, enveredámos por um caminho lateral, à sombra. As sombras ajudam muito a vencer as etapas de calor, mas o chão de pedras duras e soltas era o meu inimigo.



Estávamos a chegar à povoação, a bater os 33km, quando fomos abordados por voluntário com o único propósito de divulgar as missas da paróquia, e desafiar os peregrinos a manterem a vertente espiritual e religiosa como centro dos seus dias. A mensagem mais dolorosa foi que ainda faltariam 1,5 km para chegar ao albergue, numa altura em que os meus pés já gritavam por terminar. Foi um último quilómetro feito em conjunto com os dinamarqueses.
Chegados a Pedrouzo - que afinal é a Paróquia chamada Arca - fomos para o albergue fazer o check-in (C32), tomar duche, lavar roupa e sair à procura de lugar para almoçar. Sentados numa mesa da esplanada, junto à estrada, recebemos o Chase, o americano que se associava quase sempre o grupo dos 5 dinamarqueses que conhecemos logo na primeira etapa. Fizémos a refeição juntos, e trocámos algumas impressões do que já foi vivido e do que faltava.
Acabámos de almoçar e fomos descansar para o albergue. Ao final da tarde fomos à missa, na Igreja Paroquial de Arca, bastante concorrida - aparentemente o desafio lançado à entrada tinha dado frutos - com peregrinos de muitas origens. A caminheira da igreja, não muito grande, apontava de forma tradicional para um altar, dois degraus mais alto que a zona da assembleia, e na parede de fundo do presbitério, uma enorme Concha criava a envolvente do Sacrário, de forma deslumbrante.
No final da missa, uma pequena fila para obter um carimbo na credencial (C33). Fomos depois comer umas sandochas a um café, e finalmente fomos descansar.


É certo que este era o último albergue onde ficávamos nesta peregrinação, mas o tamanho do mesmo (provavelmente mais de 60 camas) levou à incontornável redução de respeito mútuo, e por isso adormecer revelou-se mais difícil, com tanto barulho e tanta luz. Obviamente que o cansaço prevaleceu.
O saldo para este dia fica em 34.78 Km, agora é dormir!



Na continuação deste artigo, pode querer ler: