Falta pouquinho para o meu aniversário... preparo-me todos os anos para colher os frutos que semeei, ao não ligar grande coisa aos aniversários dos outros, sempre à espera de ver quando é que passo um aniversário sozinho... mas depois, acabo sempre por lutar contra isso e marcar uma festa, com montes de gente e comida...
Já repararam como as festas de aniversário evoluem?
Quando somos bébezinhos, são os pais e os avós e os tios e tias e os primos e os padrinhos que fazem uma festa, arranjam umas decorações pirosas, põe um chapelito de papel na cabeça do infante e tiram fotos para mais tarde recordar, como que a dizer «Olha esta foto em que tu estás a fazer uma figura triste e nem sequer podias fazer valer a tua opinião»... São daqueles episódios que tememos ouvir as nossas mães contar aos amigos e parentes.
Depois temos as festas das crianças, mas daquelas que já têm alguma palavra a dizer: já escolhem os amigos a convidar (sem deixar de haver montes de gente adulta e chata), já preferem o bolo com o «dragon ball» em vez do «winnie the poh» (winnie não é suposto ser salsichinha?) e até já duram bem mais do que os 30 minutos das festas dos bébés. São normalmente lanches daqueles que têm as sandes de pão de forma cortadas em triângulos,
uns poucos pastéis de nata em miniatura, que acabam depois de 5 minutos de festa. há montes de prendas e montes de barulho e o aniversariante (normalmente mimado e mal educado) lucra a potes pela competição dos adultos de oferecerem a prenda mais vistosa! Fica ainda a perder pela repetição do flagelo:
«Ó Paulo, já cumprimentaste a tia Laurinha? Estava agora a contar daquela vez que tu nos teus anos decidiste matar a sede às escondidas a beber do frasco de óleo de cedro!»
> Mãe, eu tenho 28 anos! Sou um tipo minimamente normal, com uma vida promissora, uma carreira cheia de potencial e uma namorada lindíssima com quem quero formar família! Por favor, peço: páre de contar as histórias de quando eu levava porrada do Renato na primária, ou de quando eu fiz chichi nos calções durante uma aula, ou de quando comi as folhas da planta do alpendre... já foram trauma suficiente há 20 anos, quando aconteceram!!
Depois passam para a adolescência a querer mudar as coisas, mandar no assunto. Marcam jantares em restaurantes, com os amigos (escolhidos de uma forma mui selecta com 3 critérios: «Eu gosto da sua presença?», «Vai estragar-me a festa?» & «Ele convidou-me para o seu aniversário?») com dois pratos à escolha (e o que eu prefiro está sempre esgotado). São adultos suficiente para irem sem a família atrás, mas dependentes ainda das boleias para irem para o local, às 19h30, e para voltarem para casa, às 23h30.
Já na juventude, passam a ter uns componentes mais requintados: jantam fora, também, mas aquilo que quiserem comer; já vão em carros próprios, de alguns dos mais velhos que já têm a carta, e começam a convidar de uma forma mais abrangente (alguns, no limite da abrangência, convidam toda a gente); demoram-se mais tempo e regra geral há sempre um plano nunca bem estruturado do tipo «tinha pensado irmos beber um copo... não sei onde...» para o depois, noite adentro.
Depois começamos a ficar velhos e chatos, e as ideias de festejar mudam: um plano mais caseiro, com os melhores amigos de sempre, com uma petiscada e uns jogos de tabuleiro... Algumas vezes, preferimos até ir sozinhos para fora...
Chegando à chamada maturidade, as nossas festas são com a família: os pais e os filhos, os irmãos e suas famílias... poucas prendas, geralmente roupa, um bolo encomendado por alguém que nos ajudou a preparar tudo.
Depois voltamos às festas de aniversário fora das nossas mãos, em que são os filhos ou outros familiares que dizer onde vamos almoçar, onde vamos festejar, que escolhem os convidados... parece as festas da infância, excepto na parte em que ignoramos os convidados para podermos ir brincar para cima da árvore do quintal... até porque não conseguiríamos subir a árvore com a bengala.
Vista a evolução das festas, falta dizer que, sem ser inserida na cronologia pré-estabelecida, há sempre, na nossa vida, uma festa surpresa, uma bebedeira ou uma prenda que nos envergonha... E eu acho que é para a semana que vou ter as 3!!