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Ainda a despropósito - De pernas para o ar

Engraçado tentar reviver mentalmente, porque as memórias escritas no blogue não existem, este período que intermeia o último post e estas palavras... Sei, porque tinha alguns posts em rascunho nunca publicados, que à quatro meses atrás eu estava num zénite de dor, num auge de sofrimento por amor, por falta de sentido na vida. Sei que no meu quase rebentar, naquilo a que senti como uma depressão nervosa, quase esgotamento, fiz coisas que preferia não ter feito, magoei pessoas que me são queridas, que procedi mal em tantas e tantas decisões, todas elas tomadas na tentativa de amenizar uma dor que me enlouquecia, que me cegava. Também neste espaço de tempo, senti a vida a virar-se de pernas para o ar... na realidade, estou convencido que foi o facto de me virar literalmente de pernar para o ar, no relativismo do globo, com a minha viagem à Austrália, que voltei a ser eu. Hoje estou feliz, hoje sinto que posso ser alguém, e nessa alteração, sinto que tenho a força e a clareza para partir ao encontro dos que precisam de ajuda, de ter atenção pelos que durante muito tempo não souberam de mim. Olá a todos... estou de volta! Perdoem-me o meu passado...

Ainda a despropósito - Sorri (quase) sempre!

Sinceramente, hoje não estou a ver nenhum ponto de vista possível que inclua sorrisos... a vida das pessoas dá voltas incríveis, e tem a forma mais cómica de esfregar na cara de cada um que não há lugar para dizer coisas como «Eu nunca faria tal coisa...» ou «Nunca farei isto ou aquilo....». Eu até gostava de ser um gajo coerente, mas a verdade é que estou há demasiado tempo a tentar evitar que a vida me diga «Nunca digas 'nunca', nunca digas 'para sempre'». Não posso queixar-me da vida que tenho, mas ainda assim, por ser talvez um gajo infantil e mimado, digo em jeito de queixa que mais valia não ter a minha vida. Quando vivemos a vida num ritmo que não é outro senão das sístoles e diástoles, sujeitamo-nos a ir parar a sítios que não queremos, que não conhecemos e que não fazem parte de nós.... e eu deixei-me ir nessa onda e agora não encontro caminhos de saída, porque nem me encontro a mim próprio. É nestas alturas que normalmente um tipo grita para si mesmo cheio de fúria, que preferia morrer a ter de viver uma vida sem sentido. Mas o Deus que nos deu a vida (e que ignora, e bem, estes desabafos espremidos de um desespero) dá-nos também a esperança... e a esperança de sair daquilo que nos aprisiona é normalmente tão cega que fazemos aproximadamente a mesma figura que um peixe que se arremete contra a lateral de um aquário vezes sem conta, querendo chegar a um qualquer objectivo e esquecendo uma coisa que a aprendizagem normalmente nos faria compreender: não vale a pena continuar a bater com a cabeça.

Ainda a despropósito - Ri!

Para falar de parvoíces, não é preciso grande coisa. Não é preciso ser um alto cargo político e comentador da sociedade, embora ajude muito. Escrevo aqui as crónicas que não vou publicar, a ritmos diferentes dos que envio para a redação do «Ouvi Dizer...» porque graças a Deus, sem licenciatura nem experiência profissional como treinador de futebol ou ministro do governo, eu também tenho o Dom da Palavra, sendo que o conjunto de palavras que costumo moldar num qualquer texto é definitivamente fruto de um dom estúpido. Repararam que comecei por escrever Dom com letra maiúscula? É porque lhe dou importância, é porque sou daqueles iluminados em parvoíce que acredita em Deus e no Mundo, ao mesmo tempo. O Dom de dizer as coisas é oferta exterior a nós, sem qualquer espaço para dúvida. Eu gosto de escrever disparates, se possível fazer rir, mas sempre transmitindo as ideias de uma forma sentida, de modo a conseguir que pelo menos um leitor tenha vontade de verter uma lágrima de tanto sentido que fazem os ecos lidos no seu interior. Como esse leitor único sou eu próprio, que choro para aqui coisas parvas, então fica o apelo: vá lá, ri-te um bocadinho!

A despropósito - Junho 2008

... e já que me interromperam com esta questão menor do espaço disponível para escrever o artigo do mês de Maio, ligo os textos com o meu espaço de Junho para me centrar (talvez não) nesta pergunta que tanto ressoa, como um sino, dentro da minha cabeça (não, não é por ser oca...): O que é que nos liga? A resposta é fácil: É o Pai no Seu Amor, é Cristo no seu exemplo, é o Espírito na sua presença. É Deus que nos une, ainda que os tempos por vezes sejam autênticas areias atiradas aos olhos. E porque pegar num tema e escrever um texto que em nada está relacionado vem tão a despropósito como amar a Deus e ser humano, como olhar a perfeição e continuamente contentar-me com o que sou... ...esta rúbrica vai acabar - como me fartei de referir no artigo da última edição - e por uma razão única e simples, à parte de todas as complicações da vida: esta coluna e o seu autor não têm aqui lugar. Pessoalmente, estou ligado a este jornal há muito tempo, da mesma forma que estou ligado a inúmeras coisas na nossa comunidade paroquial, e o tempo ensina-nos a ver as coisas com outros olhos... -Ensinou-me que quando estou a escrever as coisas na abordagem mais parva possível, com o objectivo de fazer rir, o resultado é geralmente demasiado sério... e se tento escrever de forma séria, falada ao coração, então o resultado é simplesmente ridículo... e se tento escrever com outro intuito qualquer, o resultado é sempre longe do pretendido porque não domino a forma de escrever um pensamento, um sentimento... -Ensinou-me a viver em função de um ideal, vivendo a minha própria vida... por momentos essa minha vida foi razão para levar alguém a aproximar-se, por vezes foi razão para afastar... mas o momento em que me preocupei com essa interpretação foi o momento exacto de vazio na minha fé, que me fez não focar no essencial... -Ensinou-me que os caminhos são difíceis e ainda assim saborosos, e que ninguém tem um caminho perfeito, e que ninguém chega a Deus sem realmente ter vivido e experimentado a dor da entrega, da perda, da queda pelo chão... -Ensinou-me que nunca se deve alongar demasiado um artigo de jornal. O regresso às origens é como o relembrar qual a meta do caminho quando as pedras nos distraem... O «Ouvi Dizer...», apesar das dificuldades, enveredou por um caminho de regresso às origens... à simplicidade, à dedicação verdadeira, sem obrigações, ao projecto real de trabalho jovem... Gosto de ver a “malta” a dar o litro... de uma forma egoísta, dá algum sentido à minha vida... SOMOS jovens, jovens que fazem a Igreja e o Mundo, que são movidos não pelas folhas de papel de um jornal, mas pela mensagem que transborda dos nossos corações para os seus artigos. Acreditem que não importa assim tanto a correcção ortográfica, a poesia e a simetria da prosa, o profissionalismo do aspecto gráfico, a perfeição dos desenhos. Acreditem que não é tão importante a afinação como o é a energia e o empenho, acreditem que não é tão importante a instituição de nomes e grupos como o é a verdadeira vivência, acerditem que não é tão essencial a eloquência dos discursos como o é a convicção de acreditar, com todas as forças. Porque nós, jovens (sim, NÓS, Jovens) temos dasafios cada vez maiores em mãos, e não é o planeamento conciso e preciso das respostas que nos vão fazer ultrapassar as barreiras: são as energias e a coragem, a ousadia e a convição, a força e a certeza de não nos querermos acomodar ao que o mundo nos sussurra em voz de cantiga de embalar. Temos actualmente um desafio simples: sermos capazes de parar, pensar, rezar... olhar para dentro, procurar respostas e sentidos... mesmo que tudo à nossa volta chame por nós, como os jogos de (FORÇA) Portugal, como as greves dos camionistas, os aumentos dos combustíveis, os concertos de verão... Sê capaz de mandar em ti, de parar a corrente e andar por convicção em vez de andar por arrasto ou de andar por andar. Eu quero, de certa forma, partir de onde estou para regressar... e sabe bem estar de volta, unir-me ao que sempre foi parte de mim... O que nos une é Deus, que é a razão de vivermos plenamente as nossas vidas por Amor! É a Ele que eu regresso...

Ariana

Constantemente esquecida num canto, mais cheio de lixo do que qualquer outra coisa, ela vivia o dia a dia sempre triste, sempre cinzenta. Passavam por ali umas poucas pessoas nas suas azáfamas e correrias e nem reparavam que não estavam sós. Algumas poucas olhavam com nojo ou com a nova geração de fobias para a figura incomum e pouco apelativa, e ela sabia que não podia fazer nada para alterar o peso daqueles olhares. Mas conhecia pelo nome – Fernando – a única pessoa que lhe dava alguma alegria, tão somente porque lhe dava atenção. Também nós, na juventude, nos deixamos tão facilmente levar pela simples atenção dispendida, pelas palavras que nos são dadas ou pelos sorrisos, mas ela já não era uma jovem... não sabia contar a sua idade, é certo, mas pesando bem a tristeza e a memória, contava que estava mais perto do fim do que do princípio. Mal se alimentava, sem vontade, forçando-se a viver para o dia seguinte pela quase miserável esperança de dialogar com aquele que perdia um instante que fosse a olhar para ela dando-lhe importância. - Olha quem está aqui, à espreita! A minha amiga silenciosa! Ela ouvia mas não podia responder. Se pudesse corava com o facto de lhe falarem... o coração por certo batia de maneira diferente. - Como não me dizes o teu nome, e já começo a ser amigo porque te vejo todos os dias, vou baptizar-te! ...de Ariana. Fica-te bem! É nome de deusa! Não sabia o seu próprio nome... não tinha , provavelmente... Ariana soava-lhe a melodia. Gostou. Moveu-se um pouco para dar a entender que não estava a dormir, nem a ignorar aqueles comentários, e deu cinco ou seis passos para um dos lados, sem desviar o olhar. Mas o seu olhar era vazio e Fernando nunca perceberia que ela o olhava. Continuava a falar como quem fala com os botões, com as paredes... não precisava de resposta. - Já sei que um dia destes deixo de te ver... alguém te virá enxotar dessa esquina onde arrumaste as tuas bagagens, mas enquanto estás, fazes-me companhia, que eu tenho de tratar destes vasos de sardinheiras dentro do alpendre, e daquelas hortênsias no canteiro junto da janela da copa. Se te vêem é certinho que vais embora... mas se ficares discreta, como tens ficado nestes sete dias que te tenho visto aqui, fazemos companhia um ao outro... Assim como assim, já todos me acham louco por falar sozinho, nunca reparam que há tantas vozes a responder. Agora vão condenar-me porque me dei ao luxo de te dirigir a palavra... Passaram dias assim, só ele a falar, mas nunca desprezando aquele ritual de ver quem o acompanhava... tinha de facto uma ponta de loucura, pois já o ouvira dar os bons dias à acácia que estava no meio do relvado. Mas Fernando era especial, porque reparou nos que todos desprezam e olhou-os como iguais a tantos outros. Ariane, na simplicidade das coisas que não tinha capacidade de pensar, era feliz... Havia quem, no mundo inteiro, olhasse para ela, lhe desse valor... havia quem reparasse nela sem ter um julgamento fácil pronto a disparar, mas como criatura de Deus. Naquele final de tarde, caminhou pela sua teia até a um canto recôndrito junto às telhas velhas onde esperaria sorridente por um amanhã de esperança...



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Sobre o autor

Talvez tenha demasiado tempo livre, e invente por 5 pessoas diferentes... pelo menos não ando nas drogas. E não, não sofro de esquizofrenia!, embora tenha muitas faces diferentes... Tenho uma paixão por astronomia, um forte interesse por informática, um perfil para (não) ser pai, uma família «out-of-my-league», uma visão distópica da sociedade, uma mania que tenho piada, uma educação conservadora, uma introversão crónica acentuada, um sonho de ser aceite.

Sobre o leitor

Um perfeito desconhecido, amigo de longa data... uma pessoa 5 estrelas, amigo do amigo, devia abrir-se mais aos outros.